Só não gosto de casamentos por 15 razões

Sempre que me convidam para um casamento (tenho a impressão de que depois de hoje não será algo recorrente), o meu sonho na véspera é sempre o mesmo:
Está o padre, à entrada da igreja, a perguntar a cada convidado:
— É de sua livre e espontânea vontade assistir ao matrimónio da Vanessa e do Rúben?

É então que convenço a minha cara-metade de que não posso mentir sob juramento. E volto para casa.

Por vezes, o sonho transforma-se em pesadelo. Já eu vou a caminho do carro, e o padre lembra-se de perguntar se alguém presente tem algo contra o facto de eu me recusar a assistir ao casamento — e é então que a traidora da minha mulher levanta o braço.

Antes que o imbróglio conjugal assuma proporções maiores, o despertador interrompe a cena: Faltam sete horas para a cerimónia e o tempo para ela se arranjar já não é muito. Enquanto ela tenta caber no vestido, eu, já em desespero, faço a minha lista. A lista para a convencer que não é boa ideia irmos ao casamento.

1. Gravata. Quando me afastei das lides jurídicas nos tribunais, o melhor que me aconteceu foi deixar de ter algo a apertar-me o pescoço. Se as gravatas fossem úteis e confortáveis, não acabavam a noite na testa, a fazer de fita. Ainda assim, se só usasse essa desculpa para não ir ao casamento, acabava na mesma com algo a apertar-me o pescoço pelo que a lista continua.

2. Atraso. Nada como começar o dia à espera da noiva durante 43 minutos. É tradição. Uma tradição que faz com que eu deixe de acreditar na utilidade das minhas preces na igreja, especialmente quando vejo a noiva a aparecer mesmo.

3. Duração. Até aguentava o atraso, se a cerimónia religiosa fosse breve. Ou se o padre aproveitasse o discurso para dar uma reprimenda à noiva por falta de pontualidade.

4. Fotos à saída da igreja. Começa aí o teatro e a obrigação de parecer feliz, não vá o drone ou o fotógrafo apanhar-nos com ar sisudo. E acabarmos na lista negra dos noivos. O problema é que não vale a pena entrar nessa lista… a não ser que eles casem outra vez e que por causa disso não nos convidem.

5. Rivalidades. Começam logo na igreja, com bocas sobre vestidos alheios: que são da Zara em saldos, que têm um decote demasiado explícito, ou que copiam a cor do da noiva. Ainda sem álcool no sangue, os homens assentem em silêncio. Só mais tarde, entre eles, analisam a questão do decote com um misto de crítica e interesse académico.

6. Presente. É incrível, mas apesar de tudo o que passamos nos casamentos, ainda somos nós que temos que dar a prenda. De retorno levamos apenas uma lembrança: uma vela com cheiro a cebola, uma almofada com as iniciais dos noivos ou uma planta — para nunca nos esquecermos da importância de regar o amor.

7. Coreografias. Não dançam desde a queima de 2010, mas acham que têm a missão de arrasar como as Spice Girls no casamento da Lena e do Nelson. O problema é quando decidem arrastar inocentes para a pista. Se há lugar onde ninguém respeita quem não gosta de dançar, é num casamento.

8. O padrinho divertido. Há sempre aquele que se julga o dono da festa. Mantém toda a gente animada com humor de teor sexual, brindes em loop e tentativas de engate com tudo o que mexe.

9. Crianças. Parece que estão ali com a missão de convencer os noivos que não é boa ideia procriarem, mas quem sofre somos nós que temos que passar o tempo todo a vigiar os filhos. Pior do que dizerem que passei o casamento bêbado a tentar fazer um strip é dizerem que a nossa filha é uma mal-educada.

10. Comida. Ao nível da dos aviões. Com a desvantagem de ser mais fácil saltar a 5 mil pés do que recusar os pezinhos de coentrada com molho de cogumelos. Um prato que conjuga, num só garfo, a textura de uma esponja esquecida no lavatório com o sabor de um banho de pés aromatizado por ervas daninhas. E não dá para colocar na borda do prato: Os empregados sorriem como se fosse foie gras, e estamos rodeados de gente que mal conhecemos a dizer que “é uma iguaria”.

11. Mesas temáticas. Quem inventou a moda de dar nomes às mesas devia estar sentado na mesa dos culpados. Um casamento onde eu gostava de ir era aquele com a mesa das gordas, a mesa dos convidados por obrigação e a mesa dos chatos — onde me sentaria, com gosto.

12. Bolo da noiva. Se fosse bom, pediríamos uma fatia dele nas confeitarias. Nunca aconteceu. Nem vai acontecer.

13. Fotógrafo intrusivo. Está sempre no ângulo errado. É perito a apanhar-me a encher o prato pela quinta vez, com queijo no canto da boca. Podia ser subtil mas grita sempre  “CHEESE”.

14. Vídeos da infância dos noivos. Se é para ver tanta fotografia de gente que não conheço de lado nenhum, prefiro comprar a TV7Dias, que ao menos traz a programação dos canais de desporto.

15. O dia seguinte. Nunca é bom. Ressaca, cansaço, acordar a meio da tarde… com menos saúde, com menos dinheiro, com menos amor próprio e muitas vezes com menos espaço na cama se adormecerem com aquela atrevida que estava na mesa das gordas.

Apresento-lhe a lista, com pouca esperança. Ela ouve, revira os olhos e acena negativamente. Tento uma última tirada:
— Dá-me uma boa razão para irmos a este casamento.

Ela olha-me, levanta uma sobrancelha e diz apenas:
— É chato faltar ao nosso próprio casamento.

E pronto, discussão encerrada. Penso nos nossos amigos e conhecidos que lá vão estar…
Não me posso esquecer de lhes pedir desculpa. A todos.

#TheGlitterDream