No outro dia, entre um café que ficou frio e uma mensagem de WhatsApp que ficou por responder, percebi que não falava com a minha melhor amiga há mais de duas semanas. Não que estejamos a contar os dias, mas, vá lá, nem uma mensagem, um áudio ou um meme. Nada. Silêncio absoluto.

Vivemos numa era de constante conexão e paradoxal distância. Estamos sempre “por perto”, mas nunca presentes. Vemos um story e sentimo-nos perto, mas estamos realmente? Quando estamos presentes, ficamo-nos pelo básico e deixamos aquelas conversas que importam – sobre a relação que se está a desmoronar e ninguém sabe, o medo de mudar de emprego ou a alegria de conquistar algo novo – adiadas para “quando tivermos tempo”. Mas quando é que esse tempo chega?

Conseguimos sempre encaixar mais uma reunião que podia ser um e-mail, ver todas as temporadas da nova série de que todos falam, responder no grupo da família, mas não conseguimos meia hora para uma chamada sincera com quem conhece até o nosso silêncio. Talvez porque essas conversas exigem mais do que tempo: exigem presença, coragem e, às vezes, vulnerabilidade.

Conversar com uma amiga é um tipo de autocuidado. Funciona com um lembrete de que não estamos sozinhas nos nossos medos, nas nossas dúvidas, nos nossos sonhos. Talvez não precisemos de muito. Uma videochamada no carro antes de entrar em casa. Um café ao domingo, sem telemóveis. Ou até aquele áudio gigante no WhatsApp com o aviso: “Ouve quando puderes, mas precisava desabafar.”

Se há conversas que precisamos ter, que sejam com as nossas amigas. Porque elas sabem quando estamos a mentir com um “está tudo bem”. Porque já nos viram em lágrimas, em euforia, de pijama velho e de vestido de festa. E porque às vezes, tudo o que precisamos é alguém que diga: “Eu também me sinto assim. E vai passar.”

Vamos deixar de adiar as conversas que queremos realmente ter? A oportunidade nunca vai ser a certa, o momento nunca vai ser perfeito, mas a amizade é afeto em tempo real e não há espaço que a limite.

Hoje, envia uma mensagem àquela amiga que anda “adiada”. Marca um café, uma chamada, ou escreve-lhe uma carta digital — daquelas com alma. Partilha este texto com ela e começa por aqui: “Lembrei-me de ti ao ler isto.” Porque a amizade, tal como os sonhos, também precisa de tempo para florescer.

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