Injeções para perda de peso: Tendência, Tratamento ou TikTok?

por Dra. Joana Menezes Nunes, médica endocrinologista

A obesidade é, indiscutivelmente, uma das maiores epidemias do século XXI. E nos últimos tempos, o tema tem dominado redes sociais, media e consultórios médicos: as injeções para emagrecer. Revolucionárias para uns, controversas para outros, estas terapias vieram abalar o mundo da Medicina e levantar muitas questões. Mas afinal, o que são? Para que servem? E como podem — ou não — ajudar?

Estas injeções foram originalmente desenvolvidas para o tratamento da diabetes tipo 2. No entanto, estudos clínicos revelaram algo surpreendente: uma eficácia elevada também no tratamento da obesidade — uma doença complexa, crónica e ainda envolta em estigma.

Fármacos como a Semaglutida (Wegovy®) e a Tirzepatida (Mounjaro®) são hoje prescritos para perda de peso, mas os seus benefícios vão muito além dos números na balança. Estas moléculas promovem uma sensação de saciedade mais precoce e prolongada, ajudando a controlar a fome real, emocional e até hedónica (ligada ao prazer de comer). Além da perda ponderal, têm impacto positivo na saúde cardiovascular, hepática, renal, metabólica, na apneia do sono, infertilidade, osteoartrite e até no bem-estar psicológico e mental.

Mas atenção: nem todos estes medicamentos são iguais — ou acessíveis da mesma forma. Por exemplo, o Ozempic® e o Wegovy® contêm o mesmo princípio ativo (semaglutida), mas com indicações diferentes: o Ozempic® é comparticipado e prescrito para diabetes tipo 2 com obesidade; o Wegovy® é destinado exclusivamente a pessoas com obesidade, mas não é comparticipado em Portugal, o que levanta questões sobre o acesso justo a terapêuticas reconhecidamente eficazes.

A resposta ao tratamento varia muito de pessoa para pessoa. Enquanto uns notam resultados muito satisfatórios, outros podem não responder como o esperado. E sim, há efeitos secundários possíveis, como náuseas, vómitos, cólicas, diarreia ou obstipação — difíceis de prever à partida. Por isso, é essencial um acompanhamento médico especializado e experiente.

É também importante reforçar que estas injeções não substituem um estilo de vida saudável. A prática regular de exercício físico e uma alimentação equilibrada continuam a ser fundamentais — tanto para evitar carências nutricionais como para preservar a massa muscular.

Recentemente, têm surgido alertas sobre fenómenos como a “Ozempic face” (perda de volume facial), queda de cabelo e cansaço, especialmente associados ao Wegovy®. Estas reações podem ser minimizadas com acompanhamento multidisciplinar, focado na saúde integral — física e emocional.

Outro tema que tem gerado curiosidade (e algumas surpresas) são os chamados “Mounjaro/Ozempic babies”: ao perder peso, há um aumento natural da fertilidade. Além disso, estes fármacos podem alterar a absorção da pílula anticoncecional oral. Por isso, é recomendada a utilização de métodos contracetivos não orais ou o uso complementar de preservativo. No caso de gravidez planeada, é importante suspender o Mounjaro® 4 semanas antes e o Wegovy® 8 semanas antes.

E depois? O que acontece ao parar?

Uma das grandes questões é: e se deixar de tomar? Como a obesidade é uma doença crónica, sem cura definitiva, pode haver reganho de peso após a suspensão do medicamento. Não se trata de força de vontade, mas sim da natureza da própria doença — complexa, persistente e multifatorial.

E quanto à estética?

Utilizar estes medicamentos apenas para controlar o apetite ou alcançar um “corpo de sonho” pode levantar dilemas éticos e de saúde. No contexto clínico da obesidade, são ferramentas eficazes. No campo estético, ainda faltam estudos e clareza sobre onde termina o autocuidado e começa a pressão estética, que tantas vezes se cruza com questões psicológicas e distorções da autoimagem.

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