Há artistas que falam. Outros que gritam. E depois há Maurizio Cattelan — que sussurra… mas o eco chega a tudo e todos.
O irreverente artista italiano (Pádua, 1960), conhecido por transformar o absurdo em arte e a provocação em poesia visual, invadiu Serralves com a sua nova retrospetiva Sussurro. O nome pode soar delicado, mas o impacto é tudo menos silencioso: há esculturas espalhadas pelo parque, peças que brincam com a história e uma Casa Art Déco transformada em palco de inquietações contemporâneas.
Cattelan é o mestre das entrelinhas. Fascinado pelos “entremeios” da vida: o momento entre o riso e o choro, entre a infância e a idade adulto, entre o sim e o talvez. A vida e a morte. E as suas obras vivem nesse espaço ambíguo, onde o desconforto e o humor coexistem. O resultado? Uma espécie de stand-up filosófico em 3D, com santos caídos, autocríticas e ironias à escala monumental. Cattelan olha para o trágico e devolve-nos o cómico. E vice-versa. Perderíamo-nos em exemplos e análises dos mesmos, mas mais do que um spoiler, qualquer tentativa de explicação seria injusta. É esta a magia da arte, o que nos provoca, o que nos faz sentir. A cada um, de forma individual.
Mas é impossível não falar de Comedian — a obra que se tornou ícone da arte contemporânea: a célebre banana colada com fita adesiva a uma parede.
Simples, banal e genial. Para Philippe Vergne, diretor do Museu de Serralves e curador da exposição, é “a grande obra dos nossos tempos” porque condensa tudo: a economia do espetáculo, o valor da ideia sobre o objeto, o humor como resistência e a nossa dependência de imagens virais.
Cattelan mostrou que uma banana podia ser o espelho perfeito do século XXI: perecível, replicável, e absurdamente cara. E aqui entre nós, aprecie-se ou não, concordamos.
Do Sussurro ao grito: Toilepaper em Serralves.
*Berros*. Toiletpaper, aquela revista bi-anual que é um universo visual entre o pop, o surreal e o provocador, como se o inconsciente coletivo tivesse feito um shooting de moda e o resultado fosse irresistivelmente estranho ganhou a forma de loja em Serralves, com muitos dos objetos de decoração que são a extensão visual deste cosmos colorido e viciante.
Mas o que tem a ver a Toiletpaper com o Maurizio Cattelan?
O projeto, criado em 2010, foi criado pelo próprio e pelo fotógrafo Pierpaolo Ferrari. Um laboratório visual onde o surreal se veste de publicidade e o mau gosto se transforma em luxo pop.
A loja em Serralves é um prolongamento direto dessa estética: colorida, provocadora, com produtos que parecem saídos de um sonho pós-pop (ou de um pesadelo deliciosamente instagramável). Almofadas com bocas, pratos com olhos, tapetes que piscam — tudo com aquele toque entre o kitsch e o conceptual que só Cattelan e Ferrari conseguem transformar em statement artístico. Imperdível, podemos assegurar. Ora vejam.
Cattelan transforma o desconforto em espetáculo. A Toiletpaper transforma o espetáculo em design. E em Serralves, ambos encontram a moldura ideal.
Sussurro estará em Serralves até Janeiro e a loja Toilepaper até Novembro. Conselho #Glitter: Vão!
#TheGlitterDream